Já fazia quase um ano desde que a visitara pela última vez. Ela ainda tinha os mesmos cabelos grisalhos, e como da última vez em que a vi, ela estava sentada numa cadeira tão branquinha quanto muitos dos seus fios de cabelo. Aproximado-me pude observar que ela sorria e seus olhos verdes brilhavam.
- Bom dia, minha querida! - Disse ela com uma rapidez surpreendente para uma senhora de sua idade.
- Olá Dona Cecília! - Disse sorridente, increvelmente feliz por vê-la. - Como a senhora está?
- Morrendo, minha filha. - respondeu ela com um sorriso no rosto, como se sua conclusão fosse encantadora, o que me assustou. - Todos nós, cada dia mais. - Continuou a idosa após notar meu espanto. - E sabe, não é algo ruim, é um fardo dado apenas aos vivos. Eu passei a viver melhor quando descobri que estava morrendo, lentamente. Assim como você aos vinte e um anos. Pense nisso querida. - Explicou ela.
O assunto tomou outros rumos mas aquilo permaneceu em minha mente como um enigma louco e não resolvido. O que será que aquela velha de óculos grossos queria dizer? Talvez ela esteja ficando louca devido a muita idade. Quando dei por mim já estava próxima a minha casa e uma luz forte vinha ofuscando meus olhos e abruptamente fui atingida por um ônibus com uma força fatal. Foi assim que eu morri.
Sabe, agora eu entendi o que a velha senhora dizia. Eu vivi minha vida inteira sem vivê-la. Eu já estava morte há anos, jamais havia vivido a adrenalina do carro capotando, o alívio quase alegre quando o mesmo parou e a surpresa no instante em que um outro carro colidiu com a traseira do meu, fazendo-me rodopiar. Nunca havia sentido o sabor da vida. E agora já era tarde, eu havia morrido.
L Whitesh
Um comentário:
Forte!!
Adorei o texto!
Contar narrativas em primeira pessoa não é tarefa das mais fáceis, não, heim!!
Parabéns, você escreve super bem!!
Este texto me fez lembrar o que meu avô sempre dizia "A gente já nasce morrendo"... E é bem verdade!
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